Divagações e indignações sobre riscos e responsabilidades

Este texto traz minha opinião pessoal, não tenho a menor intenção de ditar regras ou dizer como ou quando qualquer pessoa deve fazer shibari. Apenas vim conscientizar sobre os riscos.

Eu conheci o shibari antes do BDSM. O que me encantou foi \’só o shibari\’, porém hoje percebo que ele pode ter diversas outras brincadeiras inclusas. As coisas podem se misturar, sim. Tanto que a primeira sessão que fiz, me senti como uma presa. E eu nem sabia sobre brincadeiras de primal na época, mas essa foi a viagem na qual entrei. Nem sei se era a intenção do rigger, que na verdade me deixou com muito medo a princípio, mas porque mal o conhecia.

Então pra mim, a primeira regra pro shibari ser algo saudável é: confie na pessoa com quem você amarra (preferencialmente busque referências antes), procure conhecer a pessoa com quem você vai amarrar antes do momento da sessão (pode ser um passeio, uma conversa ao vivo e aí junte os feedbacks com a confiança nos seus instintos). Do contrário pode virar algo desesperador de verdade, em brincadeiras só, pode ser muito divertido fear e primal play, mas na vida real o medo nunca é tão interessante assim.

Eu não sei se todo mundo tem consciência disso, mas temos que estar presentes e ligadas as sensações dos nossos corpos o tempo todo durante o shibari, especialmente devido ao risco de lesão em nervos. Entendam que o arrepio, relaxamento, tesão ou dor são totalmente normais de serem sentidos durante a prática, o importante sensorialmente é se divertir e estar consciente. Se algo te incomoda, está \’errado\’ e você pode pedir pra mudar. Cada sessão vai levar a sensações diferentes e não há motivo para culpa de reações naturais e fisiológicas.

Saiba também que você não tem que \’aguentar\’ nada que te incomoda. Muitos estímulos ao mesmo tempo podem desviar essa atenção, então aprenda a definir seus limites. Eu, por exemplo, não consigo aproveitar as sensações das cordas junto com spanking ou outras práticas com muitos estímulos físicos de dor além da causada pelas próprias cordas; com os psicológicos até consigo lidar bem junto das cordas. Talvez esse meu medo \’excessivo\’ se dê por eu já ter tido um acidente com nervo radial quando uni as duas práticas. Ficar sem mover a mão dificultaria ou impossibilitaria muitas coisas na minha vida então, eu tenho medo sim. Acho que sentir isso é um sinal auto preservação e prudência.

Então meu \’problema\’ com a mistura se deve a experiências pessoais. Desenvolver a consciência corporal leva algum tempo e pular etapas pode gerar problemas imediatos ou a médio ou longo prazo. Os danos nervosos podem acontecer na hora, mas também podem deixar sequelas que não percebemos até que o problema se agrave. Se você acha que consegue manter essa consciência mesmo com outras práticas e estímulos, sinta-se livre para misturá-las, especialmente tendo a noção de que você é responsável pelo seu corpo e não apenas quem está como top nas brincadeiras.

Outra questão minha com relação a mistura de BDSM e shibari é: muitas pessoas, não só do meio BDSM, parecem mais interessadas em fazer e acontecer, pular etapas e inflar o ego, do que estudar, ir caminhando aos poucos, fazer aulas etc. Eu não sei se é por ter alguma relação de \’poder\’ entre alunos x professora ou se é descaso e prepotência mesmo e achar que ta tudo certo aprender com videos no youtube e não seguir orientação nenhuma pessoalmente. Isso é extremamente perigoso.

E o mais engraçado, pra não dizer trágico: essas pessoas volta e meia se comparam com quem é super experiente lá fora, mas não tem a mínima noção do que estão fazendo. \”Fulano suspendeu X pessoa só pelos seios\”. Gente, vocês tem noção da experiência que esses caras tem? E mesmo assim, vocês sabem que tem muitos riscos, né? Mesmo com os caras mais \’uau\’ que vocês admirem.

Eu imploro, aprendam as técnicas corretamente, sejam humildes, perguntem, façam cursos, aulas, estudem presencialmente e não só por tutoriais. Parem de se colocar num pedestal. Empresas que chamam para performances também: cuidado com quem escolhem. Quem se apresenta é dado como exemplo a ser seguido. Teve uma época que publiquei com quem NÃO amarrar, mas não sei o quanto adianta, estava bastante preocupada com a segurança das pessoas que desconheciam o mundo do shibari e julguei muitas amarrações como não sendo seguras.

Mas como diz uma amiga minha, todos são adultos, não podemos tomar conta de todos como crianças que não sabem o que fazem. Apesar de eu ter certeza que alguns realmente não sabem.

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