Divagações e indignações sobre riscos e responsabilidades

Este texto traz minha opinião pessoal, não tenho a menor intenção de ditar regras ou dizer como ou quando qualquer pessoa deve fazer shibari. Apenas vim conscientizar sobre os riscos.

Eu conheci o shibari antes do BDSM. O que me encantou foi \’só o shibari\’, porém hoje percebo que ele pode ter diversas outras brincadeiras inclusas. As coisas podem se misturar, sim. Tanto que a primeira sessão que fiz, me senti como uma presa. E eu nem sabia sobre brincadeiras de primal na época, mas essa foi a viagem na qual entrei. Nem sei se era a intenção do rigger, que na verdade me deixou com muito medo a princípio, mas porque mal o conhecia.

Então pra mim, a primeira regra pro shibari ser algo saudável é: confie na pessoa com quem você amarra (preferencialmente busque referências antes), procure conhecer a pessoa com quem você vai amarrar antes do momento da sessão (pode ser um passeio, uma conversa ao vivo e aí junte os feedbacks com a confiança nos seus instintos). Do contrário pode virar algo desesperador de verdade, em brincadeiras só, pode ser muito divertido fear e primal play, mas na vida real o medo nunca é tão interessante assim.

Eu não sei se todo mundo tem consciência disso, mas temos que estar presentes e ligadas as sensações dos nossos corpos o tempo todo durante o shibari, especialmente devido ao risco de lesão em nervos. Entendam que o arrepio, relaxamento, tesão ou dor são totalmente normais de serem sentidos durante a prática, o importante sensorialmente é se divertir e estar consciente. Se algo te incomoda, está \’errado\’ e você pode pedir pra mudar. Cada sessão vai levar a sensações diferentes e não há motivo para culpa de reações naturais e fisiológicas.

Saiba também que você não tem que \’aguentar\’ nada que te incomoda. Muitos estímulos ao mesmo tempo podem desviar essa atenção, então aprenda a definir seus limites. Eu, por exemplo, não consigo aproveitar as sensações das cordas junto com spanking ou outras práticas com muitos estímulos físicos de dor além da causada pelas próprias cordas; com os psicológicos até consigo lidar bem junto das cordas. Talvez esse meu medo \’excessivo\’ se dê por eu já ter tido um acidente com nervo radial quando uni as duas práticas. Ficar sem mover a mão dificultaria ou impossibilitaria muitas coisas na minha vida então, eu tenho medo sim. Acho que sentir isso é um sinal auto preservação e prudência.

Então meu \’problema\’ com a mistura se deve a experiências pessoais. Desenvolver a consciência corporal leva algum tempo e pular etapas pode gerar problemas imediatos ou a médio ou longo prazo. Os danos nervosos podem acontecer na hora, mas também podem deixar sequelas que não percebemos até que o problema se agrave. Se você acha que consegue manter essa consciência mesmo com outras práticas e estímulos, sinta-se livre para misturá-las, especialmente tendo a noção de que você é responsável pelo seu corpo e não apenas quem está como top nas brincadeiras.

Outra questão minha com relação a mistura de BDSM e shibari é: muitas pessoas, não só do meio BDSM, parecem mais interessadas em fazer e acontecer, pular etapas e inflar o ego, do que estudar, ir caminhando aos poucos, fazer aulas etc. Eu não sei se é por ter alguma relação de \’poder\’ entre alunos x professora ou se é descaso e prepotência mesmo e achar que ta tudo certo aprender com videos no youtube e não seguir orientação nenhuma pessoalmente. Isso é extremamente perigoso.

E o mais engraçado, pra não dizer trágico: essas pessoas volta e meia se comparam com quem é super experiente lá fora, mas não tem a mínima noção do que estão fazendo. \”Fulano suspendeu X pessoa só pelos seios\”. Gente, vocês tem noção da experiência que esses caras tem? E mesmo assim, vocês sabem que tem muitos riscos, né? Mesmo com os caras mais \’uau\’ que vocês admirem.

Eu imploro, aprendam as técnicas corretamente, sejam humildes, perguntem, façam cursos, aulas, estudem presencialmente e não só por tutoriais. Parem de se colocar num pedestal. Empresas que chamam para performances também: cuidado com quem escolhem. Quem se apresenta é dado como exemplo a ser seguido. Teve uma época que publiquei com quem NÃO amarrar, mas não sei o quanto adianta, estava bastante preocupada com a segurança das pessoas que desconheciam o mundo do shibari e julguei muitas amarrações como não sendo seguras.

Mas como diz uma amiga minha, todos são adultos, não podemos tomar conta de todos como crianças que não sabem o que fazem. Apesar de eu ter certeza que alguns realmente não sabem.

Aprendendo e ensinando nas cordas

Este texto é um resumo e adaptação do texto original que se encontrava no link: https://sansblagueandbergborg.se/

Uma questão de comunidade

Não ensinam como trabalhar com o próprio corpo enquanto bottom ou como trabalhar com o corpo do bottom enquanto top. Ensinar mais os bottoms e estimular compartilhamento de informações entre eles.

Uma questão de gênero

Homem como top, mulher como bottom – heterossexismo, homem lidera, mulher segue (analogia com tango). Acham que não há nada de especial ser guiada / ser bottom, que é fácil e nem todes tem capacidade pra assumir a posição de bottom. Preparo físico, quando reagir, quando respirar, quando contrair, quando relaxar, quando parar, quando responder, como ficar parado algumas vezes. O ideal é que haja sempre 2 pessoas ensinando e dando igual atenção a todes estudantes. Muitas vezes pensa-se que o bottom gasta menos energia, que o trabalho mais ativo é da rigger, quando na verdade pra se manter em uma posição parado demanda muito esforço e energia do bottom. Muitas vezes mulheres se sentem mais seguras não sendo amarradas por homens e sim por outras mulheres. Muitas vezes as bottoms são apresentadas pelo top antes de apresentações apenas com \’e essa é fulana\’. A submissão e dominação do BDSM aparecem muitas vezes no shibari, e mulheres estão \’mais acostumadas a serem tratadas como submissas\’. Mas o poder de entrega é difícil, nem todos conseguem se entregar e ser bottoms. Eu quero que safe words sejam respeitadas, que bottoms tenham sua própria voz, quero submissão como local de poder.

O que eu acho que faço quando ensino e o que eu gostaria de fazer

INTRODUÇÃO AS CORDAS

Experimentando de dentro: meditação, movimento, massagem, tônus muscular e equilíbrio.
Facilitando a troca de posições top-bottom: quem toca, recebe toques, quem está de olhos abertos/ fechados, quem da/ recebe peso do corpo fora de balanço.
Segurança e confiança:
.estabelecer desejos e limites, poder parar a qlqr momento.
.iniciantes saberem de lesão de nervos, porém sem alarma-los.
.preferência de pronomes pelos quais as pessoas preferem ser chamadas (meio queer) e usando linguagem neutra.

ENSINANDO COOPERAÇÃO

Sempre haver duas pessoas ensinando.
.bottom e top ativos nas atividades
.ambos descreverem sua atv mental e física
.mudar as condições que muda a dinâmica entre a pessoa que amarra e que é amarrada de diferentes formas.
Quando são duas pessoas fica mais fácil de dar conta da classe.

PESSOAS QUE ME INSPIRARAM

Dasniya Sommer e Frances d\’Ath: yoga como aquecimento, abordagem sobre trabalho de respiração, core e manejo da dor.
MarikaRope / Resonance13: estúdio com ambição de fazer mais eventos para e sobre bottoming, inspiradas por ex em acrobacia aérea. Classe de movimento sobre estabilidade do core, alongando e mobilizando a espinha/ coluna.
Gorgone e Gestalta: ajuda com 2 posições pela tontura e pelo amortecimento das mãos.
.modelos ajudam mto mais riggers do que o contrário.

Comunicação na suspensão

Você pode ter dificuldade para formular frases que precisa.

PRECISÃO NA COMUNICAÇÃO VERBAL

– Seja preciso sobre o tempo que acha que aguenta e deve ser tirado das cordas.
– Seja preciso sobre sua situação e o que precisa ser feito.
– Saiba mostrar qual parte te incomoda sem utilizar esquerda e direita pois há muita confusão nisso.

COMBINE SINAIS NÃO VERBAIS

.intencionais: safe word não verbal. Abrir olhos e olhar fixamente onde incomoda, etc.
.não intencionais: quando as pessoas amarrando se conhecem bem observam respiração, cor da pele, sudorese, etc.

ESTEJA PREPARADO PARA FORTES EMOÇÕES E SENSAÇÕES

– Esteja presente e foque no que você está fazendo no momento! Feedbacks depois, não começar conversas longas nas cordas.
– Você pode perder um pouco o controle da sua voz com dificuldade respiratória ou dor extrema, seja super preciso sobre o que quer, ex: me tira daqui rápido.
– Expanda sua capacidade de novas emoções AOS POUCOS. Coisas novas, experimente por pouco tempo e vá aumentando gradualmente.
– Tente não entrar em pânico, você falou que quer sair, é só uma questão de tempo.
– Se a pessoa que está te amarrando entrar em pânico foque em seu corpo antes de tomar responsabilidade pelas emoções de outra pessoa.
– Se tem dificuldade em responder se está tudo bem, peça pra pessoa se atentar a sua respiração apenas.

Respiração na suspensão

Infelizmente não resumi este texto apesar de ter lido, tentarei criar um a partir de minhas experiências em breve. (Meu: muito tempo de cabeça para baixo pode alterar sua pressão, audição e respiração além de poder causar enjoos. Se estiver suspensa de barriga para baixo e sem uma linha sustentando o começo do quadril poderá haver grande pressão na área, acarretando a uma dor na coluna e toda região lombar. Para minimizar danos é preciso ativar seu core (abdômen). Não é possível fazer isso por muito tempo, afinal quanto tempo você aguenta fazendo exercício de prancha sem colapsar a lombar? Isso vai alterar sua respiração e poderá alterar a pressão também.)

O foco aqui não é estética, relaxe seu abdomen. Muitas vezes você precisará de uma respiração mais abdominal para dar conta de determinadas suspensões devido ao aumento de pressão das cordas no tórax.

Aquecimentos

 

Os aquecimentos são muito importantes antes de uma atividade física intensa. Não há uma regra específica para o shibari. Para aquecer as articulações, você pode: fazer movimento de rotação ou extensão e flexão da articulação repetidas vezes, por um minuto aproximadamente; para musculatura: fazer alguns exercícios de alongamento e relaxamento (em intervalos mais curtos, pois é apenas para aquecimento e não com a finalidade de alongar).

 

E pra que serve exatamente o aquecimento? Articular: para fluidificar o líquido sinovial presente nas articulações, eles passam de mais densos para mais fluídos, lubrificando melhor o local, diminuindo assim a chance de lesões. Muscular: “os benefícios relacionados são aumento da temperatura muscular e do metabolismo energético, aumento da elasticidade do tecido (os músculos, os tendões e os ligamentos tornam-se mais elásticos, o que proporciona diminuição do risco de lesão), aumenta a produção do líquido sinovial (aumentando a lubrificação das articulações), aumento do débito cardíaco e do fluxo sanguíneo periférico, melhora da função do sistema nervoso central e do recrutamento das unidades motoras neuromusculares.” (fonte)

Idealmente sempre deveriam ser feitos aquecimentos antes da prática de shibari. O rigger mais focado em membros superiores (dedos, pulsos, cotovelos e ombros) e costas ou outras regiões que sejam mais sensíveis (vai variar por doenças, idade, e outras características individuais). E o bottom deve ou aquecer muito bem o corpo inteiro ou perguntar a quem o amarrará quais locais considera mais importantes aquecer por mais tempo.

 

Por exemplo, numa usagi (ou bunny tie) os ombros e pescoço devem estar em foco. Geralmente não conseguimos manter a porção da coluna cervical totalmente ereta nessa amarração, assim como a articulação dos ombros fica bastante sobrecarregada, pois é uma posição a qual não estamos acostumades a ficar.

 

 

 

 

 

 

Amarrações como jiai, não vão precisar de tanto aquecimento, pois ficamos numa posição mais anatômica, num auto abraço.

 

 

 

 

Riscos para quem amarra constantemente: desenvolvimento de tendinites, artrite, inflamações musculares, formação de calos nos dedos, pequenos sangramentos nas cutículas, queimaduras.

 

Para bottoms: hérnia de disco com backbends, artrites, tendinites, subluxação/luxação, ruptura de tendão.

 

Numa sessão que não se saiba quais amarrações serão feitas, precisamos estar preparades para qualquer posição, então, é bom aquecer o corpo inteiro (tanto articulações quanto musculatura).

Você pode passar anos amarrando sem essas consequencias, especialmente sendo mais jovem, não sendo sedentário e não tendo nenhuma doença crônica. Mas algumas lesões podem ser cumulativas. Não façamos aquele de “sempre fiz assim e nunca deu errado” sem nenhum embasamento científico. Estudem sempre sobre os riscos, percebam seus próprios corpos e o preparem da maneira que sintam ser a mais adequada para as práticas.

Negociação pré sessão

Antes de tudo: você conhece algo sobre o shibari? O que é e pra que serve? Como deve se comportar sendo amarrado, quais conhecimentos mínimos precisa ter? Quais os riscos da prática? Se informe sobre todos os prós e contras antes de procurar alguém ou se submeter a uma sessão. Este texto foi feito pensando que você já conhece tudo isso e está no momento de escolha da rigger e negociação da sessão.
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A negociação é uma parte muito importante da prática, especialmente se você não tem tanta intimidade com a rigger e vocês ainda estão se conhecendo nas cordas. Nesse momento ambas estabelecerão seus limites e poderão combinar sinais ou palavras para quando houver problemas durante a sessão. Tudo deve ser falado nesse momento, se estiver tímida, escreva. Será melhor falar tudo agora do que se frustrar depois.

Comunicação é essencial.
Como você lida com seu corpo e como coloca seus limites? Consegue se expressar bem? Você fala pra parar quando sente algo de errado?

Saiba que você SEMPRE deverá avisar quando questões de segurança estão em jogo. Não importa o quanto a sessão esteja incrível, COMUNIQUE. Saiba que a rigger confiará muito mais em você e se sentirá mais à vontade para te amarrar mais vezes.

Precisa de safeword? Precisa que pergunte de tempos em tempos se está tudo bem? Fale tudo isso e explique que sinais aparecem quando você não está mais confortável, caso não consiga verbalizar. Peça para que a rigger preste atenção nestes sinais.

Combine algum sinal que signifique que está perto do limite se conseguir, dessa forma a comunicação fica mais clara.

Sugestões de sinais a serem combinados pré-sessão caso não consiga falar: abrir os olhos e olhar fixamente a rigger, piscar um número combinado de vezes olhando diretamente para a rigger, segurar um guizo ou sino e mexe-lo por mais de 5 segundos, segurar algo com a boca o tempo todo e próximo do limite soltar.

 

Tem alguma expectativa sobre essa experiência?

Não ache que será exatamente da forma que você idealiza; como toda primeira vez, tem uma variedade de coisas inesperadas que podem acontecer, nunca podendo ser fora do acordo, obviamente. Perceba que a rigger também não fará absolutamente tudo o que vc disser que pode ou quer. Ela não está ali para satisfazer todos os seus desejos e também tem seus próprios limites, respeite isso. Respeite quando a rigger disser que não está disposta a te amarrar também.

Geralmente riggers não falam exatamente o que pretendem amarrar e como vão fazer isso, pois perde-se um pouco a graça da surpresa, do inesperado. Por isso a importância de sempre a sessão ser feita com confiança mútua. Se tudo for dito antes da sessão, passo a passo da amarração, a rigger perde espaço para ser criativa e agir intuitivamente, haverá uma sessão muito mais ‘mecânica’ e não será uma experiência tão boa quanto poderia ser para você, pois não haverá tanta novidade.

A dependência da experiência ser muito positiva ou não vai da sintonia entre as duas pessoas: a percepção e boa leitura da rigger das reações do bottom (leitura corporal e de expressões faciais), boa comunicação verbal ou não verbal. A leitura e criatividade da rigger servem para que ela continue, pare ou mude algo na sessão a partir das reações do bottom.

LINKS interessantes sobre o tema: https://kinkyphilia.wordpress.com/2017/11/21/about-being-a-bunny/ e resposta ao texto pela Gorgone, modelo muitíssimo experiente e reconhecida no meio https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=375923802848461&id=100012925334890

 

Já foi amarrado antes? A experiência foi positiva ou negativa? Houve algum problema durante ou após a amarração? É interessante sabermos o que você conhece disso, se já houve problemas, se soube detectá-los e se comunica a rigger quando deveria. Se já tem mais experiência, conhece bem o seu corpo e sabe o que gosta no shibari.

Cada um tem algo que acha mais interessante sentir, seja psicologicamente ou fisicamente. Como você gostaria que te amarrassem? De forma sensual; carinhosa; sexual; dominante?

Algumas vezes tudo isso pode estar presente numa só cena em momentos diferentes. Se não tem experiência, pense primeiro em experimentar só as cordas, com alguém que você já confia e deixe claro o que você NÃO quer. Ex: dor (ou alguns tipos de dor apenas), toque em partes íntimas, humilhação. Lembrando que se o estilo da rigger for mais agressivo e você quiser uma sessão carinhosa, isso tem grandes chances de ser frustrante para ambas as partes.

 

Qual intensidade prefere? Cordas bem justas e apertadas, um pouco menos intenso?

Mesmo gostando de mais intensidade, quando conhecemos pessoas novas é sempre bom começar suave. A intensidade das pessoas costuma ser diferente e o que é pouco intenso para uma pessoa pode ser muito intenso pra outra. Isso pode ir se ajustando com o tempo, um conhecendo o outro pelas cordas.

Isso depende do seu auto conhecimento, maior intimidade com as cordas e da sua relação com o próprio corpo.

 

Para escolher a rigger: pesquise, conheça seu trabalho e procure feedbacks de quem já foi amarrado pela mesma pessoa.

Às vezes pode acontecer uma certa frustração se o estilo da pessoa não combina muito com você. Tem pessoas mais sexuais, mais carinhosas, que causam mais dor, que gostam mais de suspensão total, de solo, suspensão parcial. Existem também pessoas versáteis que podem ajustar o próprio estilo conforme o seu desejo. É legal encontrar alguém que você ouça falar e pense: isso parece interessante, quero experimentar.

É sempre importante saber se a pessoa que amarra é realmente confiável. Fama não quer dizer nada (como número de seguidores no Instagram, Tumblr etc). Cuidado com essas escolhas e se alguma falha em consentimento acontecer, alerte outras pessoas, se tiver forças pra isso, incentivo fortemente que faça uma denúncia formal.

 

Pense em todas as coisas que você não gosta que façam intimamente, pense em quem vai te amarrar, e naquilo que é ou não confortável para você.

Toques, contato físico, partes sensíveis, ou em que você sente cócegas, agonia, repulsa, ou se tem algum gatilho com a forma que tocam ou onde tocam seu corpo. Tem alguma parte do seu corpo que vc não gostaria que fosse tocada?

Deixe claro tudo o que não quer. Não quer nenhuma carícia mais sexual, não quer beijos, não quer que te morda, que te lamba, que passe os dedos na sua boca ou que coloque dedos na sua boca.

Pode limitar que os toques serão só das cordas e mãos que tocam apenas conduzindo-as, porque elas precisam passar por ali. Pode pedir para não fazer nenhuma amarração que passe entre as coxas, mas suas pernas podem ficar fechadas e ser amarradas juntas, por exemplo.

Você confia e se sente confortável com o toque da pessoa que vai te amarrar? Sente segurança? Se acha que tem qualquer coisa estranha, você tem TODO direito de falar que não quer mais, mesmo que esteja prestes a ser amarrado, ou já esteja sendo. O  consentimento pode ser revogado em qualquer momento. Ninguém quer criar traumas; se forçar a algo que não é confortável para si é se desrespeitar.

Respeite seu corpo, sua mente e seus limites.

 

Como você lida com exposição?

Pode haver exposição de seios ou genitais? Prefere ficar com roupa de baixo Completamente vestido? Só de calcinha?

Particularmente gosto da corda tocando diretamente na pele, por isso prefiro ser amarrada com pouca roupa, mas isso não quer dizer que todas as partes expostas possam ser tocadas, amarradas, ou estimuladas, seja com cordas ou outros. E se estiver confortável com roupa de baixo, mas não quiser mais exposição, fale: quero ficar com essa quantidade de roupa durante toda sessão, não fico confortável com menos que isso.

 

Fale sobre suas limitações de saúde física e psicológica.

Informe seu histórico de saúde, tanto física quanto mental. Já passou por: cirurgias ortopédicas, problemas articulares, costuma ter incômodos, dores ou dificuldade em movimentar alguma parte do corpo, problemas de circulação ou pressão, crises de pânico ou ansiedade, claustrofobia ou tem algum trauma psicológico? Essas informações ajudam a rigger a pensar em como te amarrar minimizando: risco de lesões ou até mesmo de acionar gatilhos.

É sedentária ou pratica alguma atividade física? Se pratica alguma atividade física provavelmente você conhece um pouco mais sobre seu próprio corpo, ele já está acostumado em trabalhar musculatura ou articulações e sabe como se preparar para uma atividade potencialmente estressante fisicamente. Consequentemente, terá menos chance de sentir alguns desconfortos durante a sessão ou após ser solta. Além de poder experimentar algo que seja um pouco mais intenso, caso queira, e a rigger tenha experiência para tal.

Gatilhos: você deve comentar sobre eles, pois algo pode ser acionado durante a sessão. 

 

BDSM e Shibari 

Nem sempre há elementos do BDSM no shibari. Às vezes eles podem ser complementares numa sessão.

Dor

Tem algum local mais sensível a dor ou cócegas? Você quer dor? Gosta? Tem algum local no qual você não possa sentir dor? Quando nos submetemos as cordas, diversas pequenas marquinhas e lesões podem aparecer, como hematomas e nem sempre relacionados a uma sessão que cause dor. (Link para consequências do shibari: hematomas podem acontecer não propositalmente.)

Flogger, velas, chicotes, etc são elementos que causam dor e que podem ser utilizados em uma sessão de shibari caso você permita. Mas ela pode ser causada só com as cordas caso você prefira. Pense se tem alguma dor que você não tolera: mordidas, arranhões, queimadura de cordas, dor de alongamento, dores em ponto de pressão, etc.

Restrição respiratória

Sua boca e nariz podem ser cobertos? Seu pescoço pode ser pressionado? Isso não pode acontecer em hipótese alguma? Pode haver cordas no pescoço ou rosto? Venda ou lenço cobrindo o rosto inteiro?

Qualquer brincadeira com restrição respiratória é bastante perigosa, seja cobrindo nariz e boca ou pressionando o pescoço, talvez seja interessante ler mais sobre isso e explorar com alguém que tenha experiência nesse tipo de prática, caso queira. Só permita que haja cordas no pescoço se a rigger for experiente nisso, pois podem ocorrer acidentes gravíssimos.

Restrição visual

As vendas fazem você mergulhar totalmente para o seu mundo, o que acontece em volta interfere menos, você tende a se concentrar mais nas sensações da sessão e, na minha humilde opinião, ajuda a entrar em Rope Space. Se você tem claustrofobia, talvez isso não seja tão interessante.

Se a ideia for de lenço cobrindo rosto inteiro, saiba que pode ficar quente, a respiração pode se alterar, dependendo do quão justo a rigger deixe isso, a pressão também pode baixar devido ao calor, e a sua voz ficará abafada. Só permita lenço no rosto inteiro caso confie totalmente que a rigger estará atenta a qualquer sinal de desconforto e tentativa de comunicação verbal.

Psicológicos

Quer falar o que te causa medo ou humilhação? Isso pode ser provocado durante a sessão? Gosta de relações de dominação e submissão?

 

Complicações durante a sessão
Caso sinta formigamento só em uma parte da mão, perda de força, movimento ou sensibilidade de alguma área, avise a rigger, pois pode ser o início de uma compressão nervosa ou comprometimento circulatório que fará você não perceber outras lesões e as consequências podem ser graves. Muitas vezes pode haver sensação de anestesia total de determinada região, quando se está a muito tempo amarrado devido a comprometimento vascular ou de plexo nervoso. A sensação de anestesia pode mascarar lesões, não permaneça na amarração dessa forma, é irresponsável e perigoso. Há uma divisão de responsabilidades aqui: a rigger tem a técnica e te amarra ou solta a depender das suas reações e da forma que se comunicam, você mantém a comunicação e se compromete a cuidar do seu próprio corpo para que a prática seja sadia.

 

Pós sessão
Às vezes é preciso algum tempo para entender as novas sensações que as cordas proporcionam e as emoções que vêm com elas. Aliás, se dê um tempo de introspecção para processar e digerir a experiência.

Após a sessão é sempre interessante refletir e perceber como você se sentiu em cada momento, para que descubra limites e aprenda a negociá-los cada vez melhor em próximas experiências. Sempre dê um feedback, diga o que cada momento da sessão te despertou, quais sensações surgiram a partir de cada estímulo, tudo o que você conseguir lembrar. Tudo isso para que vc e a rigger se sintonizem cada vez mais num shibari proveitoso para ambas as partes.

 

Autoras: Nanda Lillith e Maya

Você compreende o Shibari?

O QUE É O SHIBARI?”

Em japonês, Shibari significa basicamente “amarrar”. É uma técnica japonesa de amarração com cordas. O maior foco reside na estética, na fluidez e comunicação por meio das cordas.

ONDE E COMO SURGIU O SHIBARI?”

Na época do Japão Feudal, entre 1400 e 1700, os samurais utilizavam uma arte tradicional japonesa chamada “Hojojutsu” para imobilizar prisioneiros com cordas. Composto por várias técnicas, materiais e métodos que variavam de escola para escola, os samurais aprendiam a técnica de amarração juntamente ao jujutsu, em sua educação. O Shibari derivou-se desta prática, focando principalmente na beleza e valorização estética das cordas.

COMO O SHIBARI ERA PRATICADO ANTIGAMENTE?”

Em meados de 1800 e começo de 1900, o ato de amarrar com cordas teve uma revalorização erótica, e surgiu uma vertente chamada “Kinbaku”, focando no erotismo da “escravidão nas cordas”. A conotação sexual se baseia na premissa de que o mestre, como dominante, amarra sua “dorei” (escrava das cordas) para subjugá-la, apreciar sua submissão e exercer controle durante todo o ato.

COMO O SHIBARI É VISTO E FUNCIONA NOS DIAS DE HOJE?”

O Shibari nos dias de hoje é visto como uma arte com as cordas, sendo praticado de diferentes formas. Ele já não é mais visto dentro da dinâmica de “escravidão nas cordas”. Dependendo dos fins de seus praticantes, o Shibari ainda pode envolver muito erotismo e sexualidade, mas, nos dias de hoje, pode-se praticar com todo tipo de conotação. As posições dentro da prática não mais estão baseadas em homem cis=dominação, mulher cis=submissão, e existe uma grande importância quanto à equidade de gênero e a beleza de diferentes tipos de corpos na comunidade. A prática em si passou a ser focada em confiança e entrega, deixando de lado a ideia de dominação e submissão, sadomasoquismo ou fins sexuais como via de regra. Grande parte de seus praticantes nos dias de hoje são vistos como artistas, que utilizam as cordas como forma de expressão artística, tal como a dança, a pintura, o canto.

QUE TIPO DE LIGAÇÃO O SHIBARI TEM COM O CUIDADO MENTAL E FÍSICO DE SEUS PRATICANTES?”

Não existe um estudo que compreenda cientificamente o que o Shibari pode ou não causar, apesar da opinião geral de que as cordas e os movimentos que as acompanham estimulam fisica e mentalmente os praticantes. É comum que existam muitas opiniões sobre como a condução estimula diferentes reações corporais de relaxamento e embalo, consciência ampla das sensações físicas do próprio corpo, além de uma melhor visualização de situações emocionais dentro do momento em que você é “transportado para dentro de si mesmo”, durante uma sessão. Muito é dito dentro da comunidade sobre como, durante uma experiência, existe a estimulação de fluxo e transferência de energia entre quem amarra e é amarrado, proporcionando uma grande sensação meditativa.

QUAIS AS REAÇÕES QUE O SHIBARI PODE CAUSAR EM SEUS PRATICANTES?”

Durante um exercício físico ou momento de grande emoção, o corpo reage de formas singulares. Os praticantes conhecem estes momentos de reações do corpo e mente como “rope space”. É algo semelhante ao momento alto durante uma corrida, experimentado pelos atletas. Uma experiência de Shibari pode resultar em um aumento dos níveis de diferentes hormônios, como a dopamina e endorfinas, criando uma espécie de “transe” para as partes praticantes, que atingem diferentes níveis de consciência. A circulação sanguínea muda, os batimentos cardíacos, a percepção dos sentidos básicos, a respiração. Todos esses fatores se combinam e criam diferentes reações e sensações. As posições do corpo e tensão das cordas durante uma sessão podem causar desconforto físico e dores musculares após a prática. É importante alongar-se antes e depois, para minimizar esses fatores. O Shibari exige muito da capacidade física e psicológica do praticante, e é necessário ter consciência dos riscos e danos que podem ser causados e como evitá-los.

COMO FUNCIONA A DINÂMICA ENTRE QUEM AMARRA E QUEM É AMARRADO DENTRO DO SHIBARI?”

O Shibari pode ser usado com conotação sensual, sexual ou simplesmente potencialmente relaxante entre seus praticantes, e quem decide isso são os próprios, durante suas negociações. Ele não tem nenhum meio ou fim como via de regra, e cada indivíduo vai descobrir sua forma favorita de praticar durante o seu percurso nas cordas. O Shibari deve ser praticado sempre com consensualidade, respeito pelos limites e noção e consciência dos riscos durante um momento nas cordas, além de ambiente propício e conhecimento mínimo da técnica.

SE EU ME INTERESSAR PELO SHIBARI, COMO POSSO PASSAR A PRATICÁ-LO?”

O Shibari é praticado em todo o mundo e existem muitos estúdios e “dojos” situados por todos os cantos. Aqui no Brasil, existe o Rope Space, em São Paulo, além de projetos como o Arte Shibari Brasil em São Paulo, o Entré Nós em Brasília, o Ventri no Rio de Janeiro, que contam com eventos, workshops e grupos de estudos, além de pessoas na comunidade que também trabalham com aulas e sessões particulares.

A comunidade como um todo visa repassar seus conhecimentos de forma ampla e segura. Existe muito conteúdo disponível na internet para leitura, além de informações de como começar a praticar com segurança. Caso se interesse pela prática, procure por alguém já inserido dentro da comunidade para te ajudar a dar os primeiros passos. Não tente praticar em si mesmo ou em terceiros sem as noções básicas. O Shibari é uma técnica que demanda muito estudo, por ter alto potencial de risco, e o estudo nunca acaba. Há sempre mais para se estudar.

\”SE ACEITAR PRATICAR SHIBARI COM ALGUÉM, ELA PODE EXIGIR QUALQUER TIPO DE ENVOLVIMENTO DE MIM ALÉM DAS CORDAS?\”

Não! O Shibari não é via de regra algo sexual ou sadomasoquista. Pode ser usada nestas conotações, mas se durante as negociações esse for o principal interesse, envolvimento sexual ou de práticas BDSM, previna-se conversando com outras pessoas da comunidade. Nenhum rigger ou modelo pode exigir de você qualquer envolvimento sexual. A negociação antes da prática é de extrema importância, é durante a negociação que ambas as partes vão expor seus limites, seus conhecimentos da prática e como ela vai se desenrolar de forma segura e confortável para todos.

\”COMO POSSO ENTRAR EM CONTATO COM ALGUÉM DA COMUNIDADE DO SHIBARI?\”

Além dos contatos oficiais do Rope Space, Shibari Brasil, Arte Shibari Brasil, Entre Nós, Ventris, Akira Nawa e afins, você sempre pode procurar por #shibari nas redes sociais e se comunicar com os praticantes. Esse primeiro contato é importante para encontrar um norte a qual seguir, e a comunidade está aberta e receptiva a novos praticantes e interessados.

Autora: Engel

10 coisas que você pode fazer para apoiar a equidade de gênero na comunidade das cordas

Esta publicação foi atualizada para refletir melhor todos os lados da equação, incluindo especialmente as parcerias das cordas e bottoming.

Nunca quis ter de começar o “Hitchin’ Bitches”. Não quero viver em uma sociedade patriarcal e sexista que mantêm homens e mulheres em padrões diferentes. Espero, um dia, poder viver em um mundo no qual possamos apenas ter riggers, da mesma maneira que teríamos apenas eletricistas, profissionais da música e da medicina. Não são “profissionais da medicina do sexo feminino” ou “profissional da música mulher”, enquanto o/a “profissional da medicina” padrão é entendido como masculino.

Nós ainda não estamos lá, e raramente ouço o termo “homem rigger/rigger masculino”, mesmo que o “rigger feminino” seja usado com bastante freqüência. Temos o padrão de um rigger ser “masculino” e nem sequer podemos expressar isso, pois está tão arraigado em nossas mentes que esse padrão penetra quase tudo. A coisa é: existem pessoas que não falam de riggers que são mulheres como “riggers femininas”, e me sinto incrivelmente feliz por isso. Enquanto isso, aqueles que tratam os riggers que se identificam nos espectros femininos, ou mesmo “mulher” de maneira diferente daqueles que não o são, estão fazendo a sua própria comunidade um grande desserviço. Além disso, também faz com que todos os outros gêneros que gostam de estar nas cordas, completamente invisíveis.

Não quero um capítulo separado no próximo livro do Douglas Kent. Eu não aceito a premissa de que eu sou mais fraca, ou menor, em comparação a qualquer um. Também não aceito a premissa de que eu amarro de maneira diferente por conta de uma vagina e seios, como se isso fosse uma configuração genética, etc. Eu não preciso de um capítulo diferente porque sou mulher. Precisamos de um capítulo sobre como amarrar corpos que são percebidos como diferentes dos padrões normativos.

Eu não sou uma flor especial que precisa de águas especiais, e não sou fraca, mas se eu estiver em um espaço público amarrando, você pode apostar que haverá mais interrupções, tentando “ajudar”. Se eu amarrar outra pessoa que é lida como mulher, é muito mais provável que ela e eu obtenhamos muita atenção/toques/comentários indesejados. Eu falei com outros riggers sobre isso, e eles me olharam surpresos, porque, segundo eles, só tiveram que defender ou afastar outros da bottom. Adivinhe só: eles se identificam como homens.

Nós também não precisamos de cavaleiros brilhantes em armaduras nos dizendo o que fazer. Nós buscamos as cordas com a mesma paixão que qualquer outra pessoa, e buscamos conhecimento como qualquer outra pessoa. Nós somos passíveis de falhas como qualquer outra pessoa.

Gostaria de frisar: se você se pergunta como você pode apoiar um mundo em que temos menos “riggers” e “riggers femininos” como uma categoria subseqüente, aqui vão algumas dicas:

1. Use o termo com o qual nos sentimos confortáveis, seja ele rope top, rigger, etc. Não adicione o ‘feminina/mulher’ a não ser que digamos isso de nós mesmas. Evite palavras como “bunny” ou “sub” a não ser que a pessoa a que você está se referindo, especificamente, fale de si mesma dessa forma. Comece a perguntar pronomes e se atente em usar linguagem de gênero e poder* neutros.

*Poder neutro significa que não assumimos uma relação D/S numa parceria de cordas. Só porque alguém é bottom ou top nas cordas, não significa que essa pessoa seja submissa ou dominante na relação com quem ela pratica shibari.

2. Quando possível, repare as pessoas que você elogia, contrata ou promove, e atente-se com representação desigual. Não quero ser o exemplo disso, mas aposto com você que sempre existirá a possibilidade de incluir pessoas que são tão boas quanto aquelas que você julga como boazonas. Isso não é só com relação a representatividade, mas também a que tipo de aulas são oferecidas e a quem elas são direcionadas. Com um crescimento da educação da parceria em cordas, tem-se uma grande chance de você exigir mais para aqueles que já estão ensinando. Exija mais de seus/suas educadores/as.

3. Se você acha que somos atraentes quando amarramos, tudo bem. Se nós parecemos atraentes dentro das cordas, também não tem problema. Mas não deixe que esse seja o foco do seu elogio, se você realmente precisa nos elogiar. Pessoas que são lidas como mulheres são automaticamente objetificadas todos os dias. As cordas podem ser o paraíso seguro para muitas de nós, um paraíso no qual nós podemos fazer algo com nossos corpos e não apenas sermos vistas como objetos. Pense, também, a quem você se refere quando elogia. Por exemplo: um homem cis nas cordas com foco no gênero. É comumente algo como “Homens nas cordas! Incrível!”. O foco do seu elogio deveria ser algo mais substancial do que reduzir alguém ao gênero que você acredita que a pessoa pertence.

4. Mantenha-nos, sempre, nos mesmo padrões de tratamento. Nós somos humanas como vocês. Nós aprendemos, nós queremos compartilhar, nós queremos tomar responsabilidade. Não nos trate com condescendência, porque isso realmente é um saco. Pense por um momento sobre quem é ouvido em diversos contextos.

5. Não presuma que alguém que você lê como mulher terá posição de bottom para você em uma aula ou em uma play. Não presuma, ponto. Uma das coisas que eu mais escuto daquelas que vem pro Hitchin Bitches é que elas queriam muito amarrar, mas acabavam sempre do lado bottom, porque essas expectativas e pressupostos são tão fortes. Considere isso na próxima vez que você estiver num encontro de cordas.

6. Pergunte-nos sobre nossas experiências. Escutem. Não tentem nos dizer como nos sentimos ou como deveríamos sentir. Pergunte-nos sobre o que precisamos daqueles que estão em torno de nós. Perguntem sobre o que vocês podem fazer.

7. Se temos posicionamentos ou opiniões fortes, não nos chamem de vadias (nós usamos vadias aqui como empoderamento e não toleramos o mau uso do termo). Se tomamos decisões com as quais você não está confortável, foque nisso, e não no quanto somos “tiranas”. Se nós ficamos emotivas, não nos chamem de histéricas.

8. Não nos dê capítulos separados em livros. Isso é sexista, condescendente, reforçando uma compreensão binária de gênero que acrescenta muito pouco a promoção da igualdade. Não nos deixe de lado em situações educacionais baseado em nosso gênero. Busque variações de representação quando você cria material educacional. Nem todas são super magras ou flexíveis.

9. Se posicione contra violações de consentimento. Na teoria ou na prática, em qualquer âmbito que você sente que consegue. Não culpe a vítima. Um espaço mais seguro nunca o é se nós protegemos aqueles que não respeitam limites ou consentimento. Isso, independentemente de gênero. Se alguém expressa sexismo ou alega que somos especiais, flores frágeis, posicione-se contra essas pessoas.

10. Pergunte a si mesmo como se “auto-conduzir” e pense que não só as riggers percebidas como mulheres são as que devem dar um passo à frente e tomar espaço. Existe a necessidade que alguns dêem passos para trás também, ou isso acabaria virando uma gritaria, uma senhora confusão de \”gentes das cordas\” querendo ultrapassar um ao outro. O que nunca é bom.

Obrigada por fazer o que você sente e acredita que pode. Juntes podemos criar comunidades mais inclusivas.

Texto original de Hedwig Florence, traduzido por Nandi Mazza, Mag Trevisan, Tushõ e Negative; revisado por Engel e Nandi Mazza. Um trabalho colaborativo de iniciativa do grupo “Shibari Feminista” de 2017.